Usar tênis falso é pior do que ser fake?

Essa semana esteve em alta um assunto que vem repercutindo a algum tempo dentro do cenário da moda urbana, o uso de roupas e tênis falsificados, as famosas RP’s. Antes de se aprofundar sobre isso, precisamos entender que esse tipo de artigo é muitas vezes a primeira noção de moda e até de representação pessoal de muitos jovens brasileiros. Dito isso, vamos nessa.

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O uso de certa marca ou tênis vem da identificação das pessoas, que se veem representadas por algum artista, jogador ou celebridade que usa aquele produto. De certa forma, a ideia central é emular a vivência daquela pessoa, o que acaba refletindo na forma de se vestir, afinal o jeito que você se veste acaba dizendo muito sobre você. A forma de se vestir está completamente ligada a autoestima, vai dizer que usar aquele tênis ou roupa não te deixam se sentindo melhor e mais confiante? Com certeza sim! Porém, esse pode ser um ponto delicado, pois muitos acham que bom gosto está ligado a uma boa condição financeira e na minha opinião isso independe totalmente.

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Eu não condeno o uso de tênis e roupas falsas, no sentido de que muitos jovens só querem se expressar de maneira própria. Em grande parte, o acesso dessa galera a certas marcas se dá através do mercado informal, onde os produtos são mais baratos. Claro que o mercado dos produtos falsificados acarreta um grande problema na economia nacional direta e indiretamente. Também não posso defender que esse tipo de produto é o mais adequado, afinal para baratear os mesmos são usados materiais de péssima qualidade e que em muitas vezes podem trazer problemas de saúde para quem os utiliza. Sem contar na mão de obra escrava que é empregada na confecção desse tipo de produto. Mas se formos pensar em um quadro macro, as RP’s representam e dão voz a muitos jovens espalhados pelo brasilzão, isso não temos como negar.

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Mas isso também não dá o direito a que tem uma situação social favorável a criticar e ridicularizar quem usa produtos falsificados. Infelizmente no Brasil poucos tem poder aquisitivo para comprar tênis e roupas caras toda hora sem que esse gasto não comprometa o orçamento mensal da pessoa/família. É fácil apontar o dedo, apenas em busca de fama ou de polemizar, quando você vem de um contexto totalmente diferente, onde teve acesso a marcas e coisas que muitas pessoas não têm. E vou além, isso não torna ninguém mais especial ou entendedor de um assunto, muito pelo contrário. Na real, em muitos dos casos, esses mesmos que tanto julgam e condenam não tem qualquer vivência válida para tal e justamente por isso precisam ridicularizar os outros, para que se sintam superiores de alguma forma já que lhes falta tato com as pessoas que pensam diferente, empatia e até conhecimento sobre o assunto.

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Isso é um reflexo do que vem acontecendo de uns dois anos para cá no cenário do streetwear nacional. A bolha inflou demais e muita gente nova entrou com força mas não necessariamente fez o dever de casa antes. Repito algo que já disse em alguns dos meus textos, o streetwear é um meio que está diretamente ligado as ruas e suas subculturas, logo, dentro dele não cabe esse pensamento de segregação e julgamento, onde só faz parte quem tem isso ou aquilo. Aliás é bobagem achar que para pertencer ao meio você tenha que seguir certas “regras”. Seja você mesmo e use o que gostar, seja de marca famosa ou não, seja original ou não, o que deve ser valorizado é a individualidade de cada um e não a quantidade de box logos ou grails você tem.

“Por isso, eu prefiro mil vezes um garoto usando tênis falso – mas vivendo com verdade o meio em qual ele está inserido – do que um moleque mimado, com grana para comprar o que quiser, tentando impor um discurso fake de vivência”

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